aqui e ali

Vou sair,
escalar a desagrado a colina
mergulhar na conversa sem interesse
deixar-me levar pelas ondas
no desejo de estar longe daqui
nalgum lugar, onde te possa encontrar...

o anjo

o dia termina...
vou tomar o meu banho de luar
sorver o mel das pétalas das flores
e encontrar-me com o meu anjo favorito
para lhe contar as horas do meu dia....

esquecer

as saudades que sinto de ti
já nem sei se são reais
se são, simplesmente, o produto acabado
de uma forma encontrada
de aprender a esquecer o passado
que dói

despudor

porquê esta prisão
onde deliberadamente me ausento de mim
esquecida que tenho direitos
dos quais, sem pudor, me despeço,
a cada dia que passa?

sede

Por tão pouco,
nesta tarde chuvosa e húmida
uma chávena de café
fumegante de odores
apaga a sede imensa que tenho de ti

subitamente

Subitamente na Primavera
uma chuva de inverno
pesada, fria, desejada, escura
o céu escureceu
o vento soprou
a chuva caiu
o dia sobrou em chuva
a mingua que de sol eu tinha.

Mais além

Olho o céu, da minha janela debruçada no mar
e pergunto-me o que existirá
para além da escuridão,
para além ds galáxias?
para além do que a astronomia sabe
para além dos medos que nos ensinaram
para além da esperança de uma vida eterna!

anseio

Toca-me, assim, suavemente
com a ponta dos teus dedos dedilhando o meu corpo
e afasta a ansiedade daquele momento eterno
em que consigas, por um momento só,
atingir o sagrado corpo da minha alma errante!

encontro

A luz incendiada no espelho
mostra um rosto...
sou eu
imaginariamente uma mulher alegre
na realidade...
uma alma em trânsito,
à espera do ensaio do voo
que me transporte ao encontro
de mim mesma

À noite

A noite aproxima-se...
do sol restam os suspiros últimos...
frente ao espelho onde revejo a minha face
sinto a amálgama dos anos que passaram
e a permanência constante, da adolescente esperança incontida
do porvir...

Silêncios

Ama-me no silêncio
Ama-me nos teus olhos de distância,
Como se fosses gaivota em vôo
Como se tivesses o poder
De encurtar o abismo do medo
Que nos separa

SENTIR SÓ

Este sentimento da solidão em que encontro
dói por todas as esquinas da casa
que habito
labirinto de sombras cruas
que me assaltam
na rua inventada do medo

Na esquina de ver o mar....

Vivo frente ao mar. Entre mim e o mar há uma ligação íntima e sensual. É ao mesmo tempo, uma ligação de medo e de desejo. Tenho saudades de me envolver nele e deitar-me, lânguidamente, ao sol, na areia quente da praia
que me acaricia.

FELIZMENTE HÁ LUAR

O luar é mágico! Sob o luar todas as coisas tomam formas diferentes. O céu, o mar, as casas e as árvores, transfiguram-se de tal modo na paisagem que as figuras dispersas só se entendem pelo ruido dos seus passos... É noite! Há lua e a magia acontece. A transfiguração dos sons, solta o grito e o sussurar do amor... a noite... lânguida adormece!