terça-feira, junho 03, 2008
Desci até à praia.
As minhas pegadas na areia solitária
encontram-se com o tic-tac do meu coração à solta...
Estou aqui com o mar e as gaivotas de fim de inverno.
Serenamente olho o horizonte e o vai-vem das ondas
provoca-me uma suave sonolência de murmúrios antigos
de lamentações doridas e chilreios de crianças.
Tudo misturado, é um fado antigo,
dificil de entoar...
E, de súbito, esfrego os olhos,
e volto à realidade...
Nesses dias longinquos...
Escrevo-te numa linguagem de amor
porque só desta sou capaz de utilizar.
Ecos de eras em que nos amámos,
poetas e amigos nos achámos
para a seguir te perder
e nunca mais te encontrar...
Pelos caminhos da distância que percorremos juntos,
jamais meu coração te poderá perder,
os ecos das lembranças permanecem esperanças
e eu, daqui, te vejo assim, sem te poder ter...
Todos os amores, para serem amores,
têm esta infeliz dita do "não poder"...
amar-te assim, tão triste, na distância...
é razão de sobra para te querer,
pois se de amor se trata é porque se sente
que o querer e não possuir é um estado
em que a alma vai e vem já sem distância
porque a lembrança desses dias
tão bem aventurados...
são suficientes para segurar a mágoa
dos dias em que não fomos mais amados...
Em tons amarelecidos de passado...
Quando eu nasci,
o mundo da minha casa alegrou-se!
Tinha chegado a princesa ambicionada pela família...
Fui crescendo como tal, embora dentro de mim,
sempre tenha sentido que não pertencia, realmente,
àquela classe dos previlegiados em quase tudo.
Era um sentir - era um estar -
Esse estado manteve-se até hoje, felizmente!
Num mundo com tantos desgraçados que quase nada têm,
para que é que servem as princesas ou as rainhas,
senão para encherem de sonhos fúteis
as mulheres que lêm as revistas cor-de-rosa???